O All Star
Atire a primeira pedra quem nunca teve algo que adora, é confortável e por mais que falem que a coisa está velha você o considera novo e não imagina, em hipótese alguma, jogar essa coisa fora. É assim com o meu tênis all star.
Meu tênis foi comprado quando eu ingressei no primeiro ano do ensino médio, ou seja, esse ano ele faz dez anos. Sim! Tem dez anos que eu calço o mesmo número.
Com esse tênis eu passei momentos importantes e únicos em minha vida e na vida dos outros também. Costumo dizer que se ele falasse, saberia contar toda minha vida praticamente. Foi com ele que eu ia para a escola no ensino médio, com ele que comecei a experimentar as sensações da adolescência, pulei muros, participei de manifestações, pulei carnavais, aprontei no passeio público ou no Campo Grande, com ele fui fazer provas de vestibular, chorei, gritei, abracei e por achar que ele deveria participar de mais um momento de minha vida, fui com ele para faculdade algumas vezes, mesmo ele estando velho e sem cor.
Lembro dele bem novinho, pretinho, com o cadarço branco. Lembro também a primeira vez que ele recebeu uma assinatura lá no curso de inglês, depois dessa assinatura o tênis nunca mais foi o mesmo. Todo mundo queria deixar sua marca registrada no meu all star, logo em seguida vieram adesivos, os lacres das latas de refrigerante e o primeiro tintol quando ele começou a desbotar, a primeira vez que resolvi pintar a frente dele com esmalte. Teve uma época que band aid florescente estava na moda e até ele foi colado no tênis.
Meu tênis era sucesso e chamava atenção por onde ele passava...
Hoje ele está bem velhinho, até porque dez anos de estripulias não é pouca coisa. Muitas assinaturas sumiram, adesivos caíram, lacres foram retirados, mesmo assim, ele continua sendo “O” tênis. Ainda vou para academia com ele e minha mãe diz que ele está muito feio, minha prima não acredita que eu ainda o tenho, já comprei outros tênis all star, que por sinal sou apaixonada, porém ele é único e especial parece que faz parte de mim.
Agora atire a primeira pedra quem não tem algo assim.