Diário de Buzú: E chovia dentro do ônibus



Como a chuva foi o assunto do dia, me lembrei de uma história da época que eu andava lá nas bandas de Camaçari. Cá estou eu com mais um acontecimento ocorrido no ônibus VSA. Na verdade, acho que as histórias mais surreais aconteciam nesse buzú. 

Se no verão as baratas tomavam conta do buzú, como contei aqui, no inverno chovia mais dentro do ônibus do que fora dele. 

Eu pegava o buzú todos os dias, no mesmo horário e local, sendo assim,depois de um tempo, eu fui gravando a fisionomia das pessoas e sabia mais ou menos onde elas iriam descer. Essa era a técnica utilizada para não ir em pé de Salvador até Camaçari, todos os dias. Tinha uma galera que descia em São Cristóvão e sentava na última fileira do buzú, então, logo que eu entrava no ônibus, seguia para o fundo, na expectativa dessas pessoas estarem lá. Alegria de pobre é não viajar em pé de uma cidade para outra

O problema é que quando chegava o inverno, chovia mais dentro do buzú do que fora dele. Isso mesmo que vocês leram, bastava uma chuva, para começar a entrar água no ônibus. Não pense que eu estou falando daquele “pequeno transtorno” de quando está chovendo e a gente é obrigado a fechar toda janela, caso contrário, quem está sentado na janela chega ao destino todo molhado. Não é isso que eu estou falando, isso é bobagem perto do que acontecia dentro o Lapa X Camaçari. 

A chuva começava a entrar pelo vidro traseiro do ônibus e a partir daí era só a pessoa imaginar que estava no Titanic, em pleno naufrágio. A situação seria cômica se não fosse trágica. As cadeiras do fundo começavam a molhar, a água escorria, molhava o ônibus todo e tudo era usado para tentar conter a inundação. Folha de caderno, jornal, saco plástico, sombrinha, mas nada adiantava. Era tanta água que as cadeiras ficavam com poças, não tinha condições de ninguém continuar sentado. A única solução era seguir viagem em pé. 

Sabe a situação de ter que fechar as janelas para não se molhar? Nesse ônibus, janela aberta ou fechada tinha o mesmo efeito, em alguns assentos, as pessoas se molhavam de qualquer forma. 

Um dia eu fui vítima e quase choro depois de inúmeras tentativas frustradas para conter a chuva. Então comecei a observar as pessoas que estavam sentadas em outro lugar. Tudo bem que alegria de pobre dura pouco, mas ter que levantar por causa da chuva é tristeza demais para uma pessoa só. 

Depois de um tempo o ônibus foi substituído e a chuva dentro do buzú era uma preocupação a menos diante dos babados, confusões e gritarias que ocorriam quase todos os dias.

Postagens mais visitadas deste blog

No MP3

Meu novo amor...