O cabelo de Lari - Final



Comecei a fazer permanente afro com 10 ou 11 anos, o cabelo não desenvolvia. Com 15 ou 16 passei a usar tranças, ninguém além de meus pais e a menina que trançava conhecia meus cabelos, usei tranças por aproximadamente seis anos consecutivos. Tirei as tranças, voltei para o permanente afro, o cabelo ficou fino, feio, sem vida. Voltei às tranças, me formei com elas. Tirei as tranças, tentei ir para o salão especializado em crespos e ondulados, mas voltei para o permanente. Pintei as pontas do cabelo de loiro, tive corte químico e voltei para as tranças... Esse é o resumo de minha história capilar até então. 

No começo de 2012 voltei a usar tranças para recuperar meu cabelo, mas não era isso que eu queria. Já estava enjoada de me olhar no espelho e me ver sempre com aquela mesma cara. Comecei a pesquisar, a dar uma olhada e ver algumas meninas que já começavam usar o cabelo natural. Já estavam cansadas de corte químico, desse padrão estabelecido por não sei quem, em não sei em que época. A crítica ainda era muito grande, não havia muita informação, acho que tudo foi acontecendo timidamente, na base dos testes, sempre encontrava uma informação tímida aqui e outra ali. 

Toda vez que tirava as tranças, ia cortando a química que ainda tinha no meu cabelo e assim ia surgindo o meu cabelo natural. No lugar do “Nunca” , “ É impossível usar meu cabelo natural”, começava a surgir um “E se”, “ Pode ser”. Eu começava a me olhar no espelho, a pegar no meu cabelo, sentir a textura e a pensar que era possível sim eu usar o meu cabelo natural. Aceita-lo, ama-lo do jeito que ele é. 

Passei 2012 cortando o cabelo e retirando toda química que ainda tinha nele, 2013 ele já estava grande. Meus pais e a menina que trançava meu cabelo me davam força para que eu usasse meu cabelo natural. Eu pesquisava, conhecia mais sobre meu tipo de cabelo, acompanhava blogs, via depoimentos, aprendia mais sobre como tratar meu cabelo, trocava figurinhas com minha prima que tinha cortado o cabelo bem curtinho e já estava com o cabelo dela natural. E a vontade só aumentava. 

Aprendi mais sobre os tipos de cabelo. Conheci o tipo 4c(depois faço uma postagem explicando) que é o meu cabelo, descobri o fator encolhimento e que o cabelo pode encolher 75% de seu tamanho real, no poo, low poo, conheci a importância do cronograma capilar, descobri os óleos vegetais e as coisas incríveis que podem ser encontradas na cozinha para fazer hidratação. Foi um processo muito bom que me deu força e convicção do que eu queria fazer. 

No final de 2013 tirei as tranças para fazer a manutenção, tirei uma foto, coloquei nas redes sociais e uma galera falou para eu deixar o cabelo natural, mas já tinha comprado o material, marcado com a menina, então resolvi fazer. 

Só sei que o incentivo era tanto que fizeram até planos de sair comigo com o cabelo natural. Usei o cabelo natural, coloquei tranças novamente, voltei para o natural e a saída não rolou. Ainda estou esperando o convite. Fica a dica! kkk

Começou 2014 e eu ia usar meu cabelo natural só não sabia quando. Falei a minha mãe que um dia ela iria chegar em casa e eu estaria linda, bela e natural, não sei porque, mas demorou e para que eu não hesitasse mais, sai e comprei vários cremes, shampoos, condicionadores, cremes de hidratação. Até que no dia 12 de julho de 2014 tirei as tranças e coloquei para lavar. Era isso que eu dizia a todo mundo que me perguntava onde estavam as tranças. 

Tirei as tranças e senti uma sensação de liberdade. Estava feliz, decidida, certa do que eu queria fazer. Era um dia de sábado, lavei, hidratei e no domingo fiquei em casa, então, não precisei fazer nenhum penteado ou algo parecido. 

Na segunda feira foi complicado! Imagine você passar anos sem conhecer, tratar, cuidar do seu cabelo natural e do dia para a noite ter que fazer isso. Foi meio tenso... Acordei para ir à academia e não sabia o que fazer com o cabelo. Eu que nunca tinha penteado meu cabelo natural, tive que aprender meio que na base do nervoso. O cabelo não ficava do jeito que eu queria, achava que nada que eu fazia dava jeito e não fui para a academia, porém, precisava sair e não podia faltar a esse compromisso. Pensei em prender, colocar um enfeite e no final fiz uma amarração com um lenço como se fosse fazer um turbante. Dessa vez gostei do resultado e sai linda e radiante sem me preocupar com o que os outros iam dizer ou pensar. Estava confiante, a confiança saia por todos meus poros. 

Lia relatos de meninas que escutavam piadinhas, palavras desestimulantes, pessoas que perguntavam como elas tinham coragem de sair assim, vizinhos que perguntavam por que não alisavam, então, já sai psicologicamente preparada. Porém, por incrível que pareça, isso não aconteceu comigo, não sei se por causa de minha postura ou por que as pessoas realmente gostaram. 

Depois do susto da segunda feira, passei a semana toda fazendo penteados e testando as possibilidades que meu cabelo oferecia. Isso era sensacional! Eu que achava que não gostava de pentear os cabelos, penteando o cabelo e sentindo prazer no que estava fazendo. 

Alguns penteados que eu fiz durante a primeira semana

A princípio segui um cronograma capilar, onde o cabelo era hidratado três vezes na semana, descobri do que meu cabelo mais gostava e vi nos produtos que encontrava na cozinha os meus maiores aliados. 

Hoje eu posso usar tranças, como eu fiz no carnaval, mas sei que posso tirar e usar meu cabelo natural quando eu quiser, pois estarei linda de qualquer forma. Como disse na postagem anterior "Confesso que agora, ao escrever esse texto, estou usando tranças (braid box), mas acredito que quando chegar a parte final do “Cabelo de Lari” já estarei sem as tranças." E sim! Eu tirei as tranças hoje.

Postagens mais visitadas deste blog

No MP3

Diário de Buzú: E chovia dentro do ônibus

Meu novo amor...