Diário de Buzú: “Meu carro”
Tem coisa mais chata do que aquele tipo de gente que fica o tempo todo
falando dos bens materiais. “Meu carro”, “Minha Moto”, “ Minha casa na praia”...
falar uma vez ou outra tudo bem, mas, vir de Camaçari até Salvador falando da
porra de um carro, ninguém merece!
Estava voltando do trabalho quando entra um grupo de estudantes no busú.
Dois meninos e duas meninas. Uma menina sentou na janela, a outra na janela
seguinte e os dois meninos sentaram juntos... todos começaram a conversar e dar risada
quando um dos meninos começou. “A gente vai, depois passamos em minha casa,
pegamos meu carro...” e foi dizendo onde deixaria cada um dos amigos. “Ah! Mas não
reparem na bagunça do meu carro por que eu não tive tempo de lavar meu carro esse final de
semana”.
Até ai tudo bem, o problema é que tentava-se começar outro papo, mas a criatura voltava ao carro. Que
queria rebaixar o carro, mas o pai não deixava, que tinha comprado isso, feito
aquilo ou aquilo outro, que o Palio era sucesso, tal e coisa e coisa e tal.
Juro que ia começar a contar quantas vezes ele falava “Meu carro”, mas acho
que se parasse para fazer isso eu ia querer levantar, dar um tapa no “ pé do
ouvido” dele e perguntar se no repertório dele só tinha uma música. Ô coisa
chata!
E o papo do carro continuava...Por que ele estava na faculdade ai fulana
de tal que era toda simples estava com um carro tal e ninguém acreditava. Que
ele estava no bar, o amigo estava paquerando uma menina,
quando um carrão parou e era um cara para pegar a garota. Que beltrano estava encostado
no carro, daqui a pouco entrou em um carrão. Finalizava tudo com: “ E meu Palio
lá” ou então “E eu com meu carro”.
Uma das meninas olhava para ele e ficava encantada quando ele falava. mulher percebe quando a outra está encantada. Daqui a pouco ele foi sentar ao lado dela. Adivinhe qual foi o papo?. “Domingo
peguei MEU CARRO, sai com a mulher e fui para o motel ali”. Isso ele dizia
apontando para rua que dá acesso ao Bora Bora. Ô miserável não tá
vendo que a menina tá encantada com você.Isso é conversa que se tenha, ainda mais que não foi com ela que tu saiu.
Finalmente eles desceram do ônibus e provavelmente foram pegar o carro
da criatura que só sabia falar “Meu carro”. Fiquei feliz quando eles foram embora por que já não aguentava mais escutar esse lero lero.