Diário de Buzú: "O psicopata"

Quando  a pessoa pega o ônibus no mesmo horário, todos os dias, sempre encontra  o mesmo motorista, cobrador e passageiros e entre esses passageiros estava “o psicopata” , personagem principal do Diário de Busú de hoje. Na verdade a história não se passa totalmente no ônibus, mas começou  e terminou nele.

Lá pelo ano de 2009 eu pegava o ônibus sempre no mesmo horário, uma vez ou outra que eu perdia. Uns quatro pontos após o meu, entrava um grupo de homens  no busú que geralmente já estava cheio. Um deles sentava no capô do motor e ficava olhando para mim e eu toda séria. A olhada era tão insistente que uns rapazes que ficavam conversando comigo faziam gozação dizendo que ele estava “me secando”.

O tempo passou, eu mudei de horário e nunca mais o vi. Anos depois, em um belo dia, eu pego o ônibus, que já estava cheio, e adivinhe quem é que eu encontro sentado lá no fundo? O cara que ficava me olhando. Me ofereceu o lugar onde ele estava sentado e eu não quis. Na metade do percurso um lugar ao lado dele ficou vago e eu sentei.

Na tentativa de aproximação ele me perguntou as horas, falou do tempo. E eu pensando... Daqui a pouco vem o golpe. Ele se apresentou, perguntou meu nome, disse que nunca mais tinha me visto no ônibus, que ficava me olhando e eu olhava para ele com uma cara fechada, começou a falar da vida, do trabalho e a conversa fluiu tranquila. Foi ai que ele pediu meu número e eu não ia dar, mas ai me veio à cabeça as pessoas falando comigo que eu escolho demais, que eu sempre procuro um defeito, que eu tenho que dar uma chance as pessoas, que eu sempre tenho vários pretendentes mas não deixo ninguém se aproximar, que a pessoa pode ser legal e eu estar perdendo a oportunidade, dentre outras coisas, então, resolvi dar meu número, peguei o dele, desci do ônibus e segui meu destino.

No mesmo dia, no finalzinho da tarde, fui para academia. Nessa época eu estava viciada em musculação, nem levava o celular que era para nada atrapalhar minha concentração. Quando eu chego em casa tinha nada mais, nada menos que 15 ligações do rapaz. Já achei estranho! Para que esse exagero de ligações para uma pessoa que você conheceu hoje. Fui logo pensando...Tá querendo me rastrear, nem minha mãe me liga tanto assim.  Resolvi ligar para saber o motivo de tantas ligações.

Eu: Oi! Só vi suas ligações agora
Ele: Oi! Tudo bem?
Eu: Estou bem e você
Ele: Poxa! Não deixe de atender minhas ligações não que eu fico desesperado.

Para o mundo que eu quero descer! Você conhece uma pessoa hoje, liga para ela e diz que está desesperado por que a pessoa não atendeu as ligações. Já pensei... Não dá para mim, não gosto desse grude todo comigo, nem me conhece direito. Penso logo que é um psicopata.

Se passaram uns dois dias depois das 15 ligações e ele me ligou novamente. Dessa vez me chamando para alguma festa que ia ter Chiclete com Banana porque ele adorava e tal e eu disse que não iria, pois não gostava da banda e já tinha programação. Ele, sem eu convidar, se ofereceu para ir aonde eu ia. E eu, é claro, não concordei.  Alguns dias depois... 20 ligações no meu celular. Já estava ficando estressada com a situação, nem me preocupava mais. Ele ligou mais uma vez  e eu atendi.

Ele: Oi! Tudo bem? É que eu quero namorar com você.
Eu: Oxi! Como é isso? Você nem me conhece direito, não sabe de onde eu vim, para onde eu vou, não sabe se eu sou chata, grudenta, ciumenta, um porre e quer namorar comigo? Não é assim não.
Ele: Você precisa me conhecer melhor não é?
Eu: As pessoas precisam se conhecer antes de decidirem namorar.  Eu não quero namorar com você não, pelo pouco que te conheço já vi que a gente não combina.

Ele ficou tão sem graça que se despediu e desligou a ligação, eu pensei que tinha resolvido a situação. Engano meu! Vieram mais e mais ligações, torpedos. Se eu nunca tinha saído com ele já estava assim, imagine como seria depois.

Para acabar com essa situação, eu tive uma ideia:
A – Liguei para ele e aceitei o pedido de namoro
B – Troquei o número
C – Coloquei o número dele na lista negra

Resposta correta letra C. Coloquei o número na lista negra e não atendia nenhum número desconhecido. Ficou tudo em paz.

Depois de alguns meses, estou indo trabalhar e quando entro no busú vejo que o único lugar vago era ao lado dele. Fiquei naquele dilema entre ir em pé ou sentar ao lado dele, resolvi sentar e fazer a “poker face”. Ele disfarçou, disfarçou, começou a puxar conversa e depois me perguntou porque eu tinha deixado de atender as ligações dele.

Ele: Posso te fazer uma pergunta?
Eu: Pode
Ele: Porque você deixou de atender minhas ligações? Eu estava muito apressado né?
Eu: Demais. Eu achei um comportamento meio psicopata. (ô gente! Eu juro que não ia falar isso, mas saiu).

Ele me olhou com uma cara meio assustada, como que diz: “Porra! pegou pesado”, porém, não disse nada.  A sorte foi que estava próximo ao ponto dele,  ele desceu e nunca mais torpedos, ligações ou sinal de vida. 

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