Diário de Buzú: O gostosão

Tem homem que se acha a bala que matou Kennedy, o último biscoito do pacote, o bam bam bam das paradas. De vez em quando alguém com esse perfil cruza o meu caminho querendo uma atenção que certamente eu não vou dar. O Diário de Buzú de hoje é sobre um gostosão que eu encontrei no Camaçari X Lapa.

Estava no ônibus, sentadinha na minha cadeira trono,  aquelas cadeiras altas que ficam no fundo louca para tirar um cochilo, quando senta um homem ao meu lado. Na verdade ele entrou no ônibus, deu uma mirada  e veio logo sentar-se perto de mim. Quando eu vou encostar a cabeça para poder dar uma cochilada, essa criatura se agita na cadeira e consequentemente tomba em mim. E a cada tentativa minha de tirar uma madorna, ele fazia alguma coisa para não deixar que eu dormisse...me perguntou as horas, me futucou para perguntar se eu ficaria incomodada se ele fechasse a janela ... toda hora era uma coisa, não queria me deixar dormir. E conseguiu! Quando ele percebeu que tinha conseguido tirar meu sono, começou a puxar conversa.

Ele:Tá calor né?
Eu: Rum, rum

Eu respondi olhando para a janela para o papo não render

Ele: Viagem cansativa essa né?
Eu: Rum, rum
Ele: Eu trabalho em São Franscisco do Conde, moro em Madre de Deus e meu filho mora em Periperi. Vivo de lá para cá.
Eu: Rum, rum
Ele: Eu tenho um filho lindo, carinhoso, você precisa conhecer.

Foi logo pegando o celular para me mostrar as fotos do filho.Começou a contar que ele tinha levado o filho  para passear no Dique do Tororó, e depois a pizzaria, que o menino entendia de tecnologia mais que ele e bla, blá blá. Isso eu lá escutando ele elogiando o menino. Até ai tudo bem, tudo dentro da normalidade.

Foi ai que eu resolvi quebrar a sequência de "rum rum" e perguntei: Só tem ele?
Ele: Com essa mulher é, mas tenho filhos com outras mulheres. Sabe como é né!?

Nossa Senhora! O mizeravão

Sabe como é o que minha gente?! Eu não sei como é nada...Continuou a falar do filho, onde morava, trabalhava, o que fazia e eu retornei ao “rum, rum”, “ah tá”.

Ai do nada, ele corta os elogios ao filho e me diz:

Ele: Anote meu número para você me ligar para a gente sair.
Eu: Quero não! Obrigada!
Ele: Então me dê o seu.
Eu: Também não quero.
Ele: Porque? Seu namorado não deixa?Pegue meu número senão você vai se arrepender.

Uai... Pipoco mundial, eu ia chorar sete dias e sete noites por que não peguei o número dele.

Eu: Não! Eu não tenho namorado e não quero seu número.
Ele: Você é orgulhosa né?
Eu: Você não imagina o quanto.
Ele: Anote meu número rapaz. Você me diz onde mora e eu vou com meu carro te buscar para a gente sair.

Não sei se é impressão minha, mas toda vez que acontece uma situação dessa, a criatura dá um jeito de dizer que tem carro. Deve ser uma tentativa de fazer a pessoa mudar de ideia.E se falam é porque alguma vez já deu certo.

Eu já de saco cheio respondi: 
Eu: Quantas vezes eu vou te dizer que não. Já está ficando chato isso.
Ele: Tenho certeza que você vai se arrepender, mas já que você não quer, tem quem queira.
Eu: Pode até ser, mas não sou eu. 

Finalmente chegou o ponto dele e ele foi embora provavelmente procurando quem o quisesse e eu ...até hoje não me arrependi. 

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