Eu sou Alice



O livro “Eu sou Alice” de Melanie Benjamin é uma mistura de realidade e ficção que conta a vida de Alice Liddell, a menina que aos 7 anos inspirou Charles Dodgson a criar a história de Alice no País das Maravilhas, assinada com o pseudônimo de Lewis Carroll. Nunca fui apaixonada pela história da menina que um dia caiu na toca de um coelho e entrou no mundo das maravilhas, porém, gosto muito de livros e filmes biográficos, nem que seja em partes.

O livro começa assim  "Ai meu Deus, estou cansada de ser Alice no país das Maravilhas. Será que estou parecendo ingrata? Acho que sim, mas é que estou tão cansada". Alice, agora com 82 anos relembra sua história cheia de alegria, fantasia e sofrimento.

Charles Dodgson, mundialmente conhecido pelo Lewis Carroll, era um professor de matemática em Oxford, onde pai de Alice era o reitor na época. O professor tinha um apreço o pelas irmãs Liddell (Ina, Alice e Edith) e as vezes passava as tardes com as meninas, fazendo passeios, contando histórias, e até mesmo fotografando-as, já que tinha esse hobby.

Confesso que dei uma travada e até o deixei o livro um pouco de lado quando logo nas primeiras páginas, quando em um dos passeios surge uma narrativa, que embora seja feita por uma pessoa de 82 anos, achei muito maduras para uma criança de sete anos.

- o senhor Dodgson se curvou e segurou meu cotovelo.
“Alegre-se, minha querida Alice, tenho uma linda surpresa para você”
Detive- me com o coração aos pulos, tanto por causa da animação em torno do peixe – que agora se debatia debilmente na sarjeta enquanto um homem esfarrapado o cutucava com uma vara – quanto por causa das palavras tentadoras pronunciadas pelo senhor Dodgson. Sua mão continuava acariciando meu cotovelo, e senti, naquele momento, que iria a qualquer lugar que ele pedisse, faria tudo que ele dissesse, desde que fôssemos só nós dois e ninguém mais.
“Um segredo só para mim? Murmurei, sem poder olhar nos olhos dele, com medo de estar enganada
“Só para você”, respondeu ele, também em sussurros.
...
“Deve ser algo muito bom! O que é? Quando é que vou ficar sabendo?
“Em breve. Eu lhe mandarei um recado, quando chegar o dia perfeito”

Não sei se é o mundo atual mas só me veio a cabeça casos de pedofilia. Passado o "choque", voltei ao livro.

Passou um tempo e o tal dia perfeito chegou e Alice posou para uma foto feita pelo Sr. Dodgson trajando um simples vestido, como se fosse uma cigana. Nessa parte também fiquei super tensa, achando que Sr. Dodgson a qualquer momento atacaria a menina. 

Voltaram para casa, os passeios continuaram e em um deles o professor contou uma história, onde uma menina que se chamava Alice caia em uma toca de um coelho e assim, encontrava um mundo mágico. A pequena Alice insistiu ao professor que escrevesse e publicasse sua história.

Quando Alice tinha 11 anos, a família rompeu sua amizade com Dodgson. Alguma coisa nessa relação chocava a sociedade, fica uma suspeita no ar, mas parece que não há informações sobre o que realmente aconteceu entre Alice e Dodgson nesse período que fez com que eles cortassem relação.

Já em sua juventude, e após passar um período “escondida” ela conheceu o príncipe Leopold, e eles se apaixonaram. Infelizmente, por causa da antiga questão com o professor, que ninguém sabe ao certo o que ocorreu, ela não casou com o príncipe. Anos depois, frustrada, desiludida ela se casa com Regi, tem três filhos, vai morar no campo. Perde dois filhos na Guerra e assim chega aos 82 anos, quando leiloa o original do Alice no País das Maravilhas. Ela também viaja para Nova York onde recebeu um doutorado honorário e conheceu o rapaz que inspirou o Peter Pan, outro personagem da literatura infantil. Imagine que legal, dois personagens da literatura infantil se encontrando.

Aos 82 anos ela faz uma reflexão sobre o que foi a vida dela que dá um pouco de tristeza, a impressão que a vida passou e embora tenha feito várias coisas não tenha conseguido viver plenamente. “ Pois na verdade, não havia lógica em minha vida; eu havia viajado, procurado, questionado, e amado e tentado tanto; ainda assim ali estava, sem respostas ou soluções. Não existia um País das Maravilhas; nunca havia existido. Só eu existia, olhando para mim mesma em uma vidraça manchada, incapaz de reconhecer a menina que eu havia sido, a mulher em que havia me tornado, agora sozinha, sem nada que me pertencesse a não ser uma velha casa deteriorada...”

Ao final do livro a autora ressalta que o livro é uma ficção e não uma biografia, que fatos conhecidos sobre a vida da menina não foram alterados e em algumas partes ela se permitiu maior liberdade na descrição.

*Melanie Benjamin- é uma escritora que, por conta de sua paixão por histórias e biografias, direciona sua atenção para as “histórias por trás das histórias”.



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