Diário de Buzú: A revolta da cordeira
Carnaval é aquela época em que loucuras acontecem com mais frequência, a gente vê e escuta coisas que muitas vezes são inacreditáveis. Com essa “alegria” toda solta no ar, seria quase impossível não ter uma história para contar no Diário de Buzú.
Estava voltando para casa, na terça-feira de carnaval, naquele clima nostálgico de que os dias de folia estavam chegando ao final. Peguei o ônibus vazio e pensei As pessoas ainda vão curtir mais um pouquinho, só devem voltar para casa após o arrastão da quarta-feira de cinzas. Peguei o ônibus na Avenida Centenário, sentei na janela para observar o movimento. Quando o ônibus chegou à Ondina, vejo várias mulheres batendo na porta da frente, pedindo ao motorista para entrar.
O motorista abriu a porta e elas entraram, bebendo cerveja, falando alto, xingando o prefeito, reclamando dos cordeiros bagunceiros, dos Filhos de Gandhy beijoqueiros, os assuntos eram variados. Um monte de mulheres juntas, falando ao mesmo tempo, coisa de louco.
Não demorou muito para eu descobrir que elas estavam trabalhando como cordeiras, começaram a falar sobre os blocos que trabalharam quando de repente uma gritou: “Fulana, estou com 12 colares do Gandhy, beijei 12 mulher”, dizia sacudindo os colares na mão. A outra respondeu: “Deus é mais, um monte de homem com a boca podre, querendo beijar todo mundo. Daqui a pouco está cheia de doença. Você viu Beltrana? Veio o caminho todo beijando, toda hora que eu olhava tava beijando um”. A que estava com os colares na mão prontamente respondeu que não tinha beijado ninguém que os colares ela tinha ganhado dos amigos.
O papo continuou quando uma delas, que estava sentada a meu lado, e a cada curva que o ônibus fazia se jogava em cima de mim, perguntou a outra que estava sentada um pouco mais a frente: “Fulana, você puxou corda no Largadinho?” A amiga respondeu revoltada: "Só fui um dia! Que nada! Um monte de homem se beijando. Como é que pode um negócio desse? Os homens passam o ano todo na academia, você precisava ver o tamanho dos braços, ai chega carnaval, ficam se beijando e eu sozinha. Tava pior que a Parada Gay, nunca vi aquilo. E ainda queriam que eu suspendesse a corda para eles passaram, com aqueles braços estavam precisando de mim para suspender corda. Mas rapaz! Suspenda sua corda", falava dando gargalhada.
A que estava sentada do meu lado respondeu: "Eu quero lá saber se tava beijando ou deixando de beijar. Eu quero é ganhar meu dinheiro. Fui dois dias no Largadinho e se tivesse todos os dias, eu iria. A amiga, colocando a mão no coração e se balançando dizia: "Não! Meu coração não aguenta".
O papo acabou e elas seguiram com outros assuntos, porém, vez em quando a revoltada falava do tamanho dos braços dos homens e completava com um "E eu nada!". Finalmente o ponto chegou e ela foi embora sorridente, revoltada e provavelmente sem pegar ninguém.