Cabelo de Lari – Parte III



Estou de volta para contar como foi meu processo capilar até decidir assumir meu cabelo natural. Confesso que agora, ao escrever esse texto, estou usando tranças (braid box), mas acredito que quando chegar a parte final do “Cabelo de Lari” já estarei sem as tranças. Agora me sinto livre e sei que posso colocar e tirar as braid box quando eu quiser. Coloquei-as no carnaval, com o objetivo de ficar  com elas por uns dois meses.

Mas vamos voltar a minha história capilar... Depois do comentário preconceituoso do coordenador e de ter desistido temporariamente de tirar as tranças, achei que era a hora de tirá-las. Continuar a usar tranças após o comentário era como se fosse uma forma de resistência. Fazia questão de ir a sala dele só para mostrar que ele teria que me aturar com minhas tranças.

Depois de mais ou menos seis anos usando tranças, e aproximadamente oito meses após o tal comentário do coordenador, resolvi tirar as braid box, porém, voltei para o permanente afro. Era a única opção que eu encontrava dentro do que eu queria para o meu cabelo, já que não cogitava a hipótese de usar natural, nem queria alisado. Na época achei que pudesse ter tido alguma mudança na química usada para fazer o procedimento... engano meu.

No inicio tudo são flores, o cabelo fica bonito, cacheado, cheio com vida. Meus colegas da faculdade finalmente me viram sem as tranças, minhas primas que perguntavam se eu iria casar de tranças, respiraram aliviadas, algumas pessoas do estágio mesmo passando tanto tempo me perguntaram se eu tinha tirado por causa do coordenador, enfim, uns amaram e outros odiaram.
Eu seguia hidratando o cabelo na tentativa dele não ficar fraco, fino dentro outras consequências que o uso da amônia, química utilizada no permanente afro, causava em meu cabelo. A certeza que tinha era que se algo desse errado, eu colocaria as tranças novamente, afinal, com elas eu conseguia recuperar os cabelos.Voltei a passar por aquele processo de retocar a raiz a cada três meses, hidratando,cuidando, mas não adiantou. Com o passar do tempo, o cabelo que estava bonito, com vida, começou a ficar fino, quebradiço, horrível. Olhava-me no espelho e via o cabelo mais cheio próximo a raiz e super fino nas pontas. Quem já passou alguma química no cabelo sabe bem o que eu estou falando.

O cabelo ficou feio demais e mais uma vez recorri ao socorro das tranças. Voltei ao mesmo processo de antes, tirava na sexta a noite, colocava no sábado pela manhã, ninguém além de meus pais, a menina que trançava e eventualmente meus vizinhos, me viam sem as tranças. Recusava saídas na sexta-feira a noite, por exemplo. Gravei meu Trabalho de Conclusão de Curso usando tranças, me formei usando tranças. Essa era minha marca registrada... vermelho, loiro, mais claro, mais escuro e lá estava eu sempre de tranças.

Fiquei um ano e meio ou dois usando as tranças quando mais uma vez resolvi tirar. Dessa vez, passei a olhar meu cabelo natural de uma forma diferente, mas ainda não tinha coragem de usa- ló natural, fora que colocava várias barreiras como: "Ah! eu não gosto de pentear o cabelo" "eu não vou ter paciência para arrumar" "não tenho tempo", dentre outras justificativas. 

Nessa época algumas pessoas tinham partido para a guanidina, porém, os cabelos ficavam alisados e eu não queria. Também era o período que estava a febre desse salão que oferece serviço para quem tem cabelo crespo e ondulado, todo mundo no mundo ia para lá. Fiquei interessada no processo e fiz contato com algumas meninas através do Orkut (o finado), peguei informações com elas, algumas estavam felizes com o resultado, outras esperavam a promessa dos cachos, ostentando um cabelo meio frizado. Uma amiga de minha mãe que trabalhava lá, indicou que fossemos ao local obter mais informações e assim fizemos. Chegando lá, eu e minha mãe começamos a questionar a cabeleireira que nos atendeu como é que funcionava esse produto que as pessoas falavam que fazia cachos sem usar bigudinhos. Como é que a química iria agir e formar cachos uma vez que meu cabelo forma cachos, a estrutura do fio é diferente . A atendente simplesmente disse que formaria cachos sim, mas que eu teria que pagar para ver. Conclusão: voltamos para casa sem uma resposta satisfatória, mas com a certeza de que eu não voltaria lá.

Ah! Não falei mas nesses períodos entre tranças e cabelos com permanente, também pensei em colocar mega hair , mas nunca cheguei a usar.

Como quem não escuta cuidado, escuta coitado, voltei para o permanente afro e a amônia que eu já sabia que mais cedo ou mais tarde estragaria meus cabelos. Era aquela coisa de dar murro em ponta de faca, mas parece que eu já estava levando o processo como algo normal. Dava permanente, estragava o cabelo, colocava tranças, recuperava o cabelo, dava permanente novamente... Quando alguém falava comigo que iria experimentar uma química nova, eu falava que era para testar e completava dizendo “ qualquer coisa coloca tranças”. Como se o que estava acontecendo fosse algo normal e era a única solução.

Voltei para o permanente, e como todo mundo sabe os primeiros meses com o permanente afro são as mil maravilhas. Lembro que fiz mechas claras nas pontas do cabelo, aprendi a fazer uma hidratação com tutano, coloquei meu pai para procurar tutano no açougue. Já sabia um pouco sobre cronograma capilar, fazia todos os cuidados, porém, tive um corte químico e meu cabelo quebrou em algumas partes, então resolvi cortar o cabelo bem curtinho. Fiquei aproximadamente um mês com o cabelo curtinho, era carnaval, quando resolvi mais uma vez voltar para as tranças. Fiz até essa postagem aqui que eu falava em três meses e três tipos de cabelo. 

Vou parar por aqui ...e semana que vem tem mais!

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