Será que pareço psicóloga?


Se minhas idas e vindas de Camaçari não me rendem um bom salário, pelo menos me rende boas histórias. Não sei o que acontece nessa cidade e/ou nesse ônibus (Camaçari- Lapa) que as pessoas olham para mim e começam a contar fatos de sua vida. O mais impressionante é que o papo começa do nada. Será que pareço com uma psicóloga ou com um divã?

Dias desses estou dando minha paletada da sede do jornal até o ponto dos Correios (quem conhece o percurso sabe que ele é foda) e quando estou atravessando a Avenida Eixo Urbano Central uma criatura começa: Esses jovens eu não sei não! Minha filha não que mais sair do computador e ainda aprende tudo que não presta. Hoje quase ela recebe um tapa por que viu uma frase no tube (imagino eu que seja youtube) e veio repetir para mim. Falei logo para ela fechar a cara e me respeitar e blá blá blá.

E eu pensando: Como assim Brasil! Essa criatura nunca me viu mais gorda e começa a contar a vida assim do nada?. Só sei que disfarcei, disse meia dúzia de palavras e adiantei meu lado.

Outro dia estou no ônibus em pé (novidade é quando eu estou sentada) quando uma criatura só me olhava, depois de um tempo, perguntou se eu não queria encostar em um espaço que estava vazio. Para que eu fui!?! O homem veio da Via Parafuso até o Iguatemi conversando comigo. Eu já estava cansada de dar aquela risadinha sem graça e falar “é mesmo?”

Esse homem me contou que era do Ceará, que havia perdido os pais, que tinha viajado para fora do Brasil, mas que voltou por que no lugar fazia muito frio, que ele trabalhava na Caraíba Metais e que estava indo fazer exames em Salvador por que um homem que passa muito tempo trabalhando lá não é mais homem, pois fica todo corroído por dentro.

É mole ou quer mais?

Então vai mais. Tem menino que fica no ponto vendendo vale. Hoje eu até converso com ele, mas quando o conheci ele veio com um papo que estava sofrendo, que a namorada havia ido embora de Camaçari, que ele não sabia o que fazer, que tinha emagrecido e tal

Ai eu pergunto a vocês: O que eu tenho a ver com isso?

E não pense que acabou. Até as crianças conversam comigo. Tinha uma menininha de uns oito anos sentada no ônibus e me perguntou se eu gostava de matemática. Quem me conhece sabe que eu odeio matemática. Essa menina me disse que adorava matemática, que só tirava notas boas na escola, até ai tudo bem. A coisa ficou chata quando ela resolveu começar a me perguntar quanto é 9X8, quanto é 7X6. Tudo bem que isso é fácil, mas matemática me deixa estressada. Deus me ajudou e ela desceu logo do ônibus.

Tenho até outras histórias, mas não dá para contar tudo aqui. Só sei que vou conhecendo, mesmo sem querer, a vida das pessoas. Na verdade eu fico pensando como elas têm coragem, vontade ou sei lá o que para “se abrir” com uma pessoa totalmente desconhecida. Eu não sei ser assim, tenho dificuldade de contar a minha vida até mesmo para os mais próximos.

Postagens mais visitadas deste blog

No MP3

Diário de Buzú: E chovia dentro do ônibus

Meu novo amor...