Diário de Buzú: O assalto

Você que leu o título da postagem deve estar se perguntando: Ela vai mesmo relatar um assalto dentro do ônibus? Vou sim minha gente! Afinal, não é só de histórias engraçadas que as pessoas vivem nos transportes coletivos de Salvador. Essa é uma história que não queria ter que contar, mas infelizmente faz parte do cotidiano de muita gente. 

Estava indo para o curso e tudo ocorria com normalmente. Mesmo horário, mesmo itinerário, mesma empresa de ônibus e eu sentada respondendo um questionário. O ônibus não estava cheio, a ponto de ter gente em pé, mas também não estava vazio, tinham apenas alguns lugares vagos. De repente três rapazes entraram pela frente do ônibus, dois deles foram para o fundo do buzú e um encostou próximo a um jovem que estava sentado do lado oposto ao meu, um pouco mais a frente. Eu achei que eles estavam conversando, porém, a ficha caiu e eu percebi que se tratava de um assalto e ele estava pedindo o celular do menino, que, ameaçado de morte, entregou o celular. 

Algumas pessoas viram, outras não. Veja o que é a reação da pessoa, eu ao invés de ficar sentada quieta no meu canto, abri minha bolsa, coloquei o questionário e a caneta lá dentro e levantei da cadeira junto com uma coroa que estava perto de mim. A coroa ia descer do buzú porque era o ponto dela, mas eu não.
A ousadia dos assaltantes foi tanta que eles saíram perguntando onde é que as pessoas moravam para saber se iriam assaltar ou não! Tudo aconteceu muito rápido e eles levaram somente o celular do menino. No final, pediram licença a mim, a coroa e algumas pessoas que estavam na frente e desceram do ônibus. Antes de descer um ainda perguntou a um homem onde é que ele morava. Tudo isso em uma distância de uns três pontos. 

Quando os assaltantes desceram do buzú ficou aquele clima de tensão. As pessoas começaram a comentar... até a coroa que levantou junto comigo esqueceu-se de descer no ponto dela. Foi ai que apareceu o possível motivo deles não terem assaltado todo mundo... As pessoas que eles perguntaram onde moravam, falaram nomes de bairros onde eles provavelmente moram ou são conhecidos. Uma senhora comentou “Ele me reconheceu, ficou me olhando”...Um rapaz falou “Eu vejo esses caras por lá, eles me viram com o celular na mão, perguntou onde eu morava e não levou o celular”. Sendo assim, eu cheguei à conclusão que eles não imaginavam que teriam tantos “vizinhos” dentro do ônibus e abortaram o assalto coletivo.

Quando essas coisas acontecem sempre tem alguém que quer se mostrar valente e dessa vez foi uma senhora que tinha entrado pela frente junto com os assaltantes. Como ela ficou sentada na cadeira de prioridade não viu o que se passou atrás, só viu os comentários depois e foi falar com o menino que tinha sido assaltado. Deu uma de investigadora, perguntou o que o assaltante havia falado, se tinha mostrado alguma arma e voltou para o lugar de prioridade falando. “ Esse menino também é verde como é que nem mostram nenhuma arma e ele entrega o celular assim na facilidade?”. Em seguida ela resolveu colocar a culpa em alguém e foi no motorista “ A culpa é do motorista, como é que deixa esses meninos entrarem assim pela frente do ônibus?” 

Eu fui observando o processo de investigação dela até chegar meu ponto. Desci do ônibus tensa, fui assistir minha aula tensa e rezando para chegar em casa em paz. E digo mais...Uma semana depois, no mesmo bat horário e bat local aconteceu algo parecido... Vou deixar para o próximo Diário de Buzú porque só de lembrar essa história eu fico tensa.

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