Eu, o pivete e o par de brincos


Os brincos pareciam com esse
Eu sempre fui uma pessoa meio louca. Com o passar dos anos fui me tornando mais resguardada, mas devo dizer que, às vezes, tenho as reações mais loucas, estranhas e inesperadas para algumas situações que acontecem comigo. 

Eu devia ter uns 11 anos quando essa história aconteceu. De vez em quando aparece uma moda e todo mundo no mundo tem aquela coisa. É assim com roupa, sapato, bolsa dentre outras coisas. Lembro que estava na moda um brinco argola com o desenho tribal, se não me engano, ele era de prata ou aço. Minha mãe comprou um grande para ela e um pequeno para mim. Ela me deu esse brinco e no dia seguinte eu fui para a escola com ele. Assisti minha aula normalmente e o problema começou quando eu estava indo para casa. 

Quando eu estava indo para o ponto de ônibus, junto com minha colega, avistei dois pivetes na esquina. Sabe aqueles pivetinhos que na época de escola todo mundo tem medo? Todo mundo tinha medo deles, era eles olharem para a galera morrer de medo e acabavam fazendo tudo que eles queriam. 

Pois bem! Eu avistei os pivetes e continuei meu caminho. Quando fui passando por eles, um se levantou, olhou para meus brincos e disse: 

Ele- Gostei dos seus brincos. Quero ele agora

Os brincos eram unissex e era bem naquela época que os meninos começaram a furar a orelha. 

Eu- Não!

Desviei dele e continuei andando, achando eu que ele iria me deixar em paz. Minha gente! Não sei de onde eu tirei forças para continuar andando, meu coração estava saindo pela boca, mas achei muita ousadia ele olhar para minha cara e dizer que queria meus brincos novos que minha mãe tinha acabado de me dar. 

Não satisfeito com minha resposta, ele veio atrás de mim e tentou puxar o brinco de minha orelha. Foi ai que eu e minha amiga começamos a correr. Tirei os brincos da orelha e guardei, não lembro se foi no bolso da calça ou da mochila... só sei que guardei por que estava decidida a não dar. 

E a partir daí começou a correria. Eu e minha amiga entramos no pátio de uma casa e uma velha saiu de dentro de casa correndo com uma peixeira na mão, nos escondemos atrás de um carro e o dono do carro chegou e saiu com o carro, entramos no mercado.... Toda vez que achávamos que estávamos liberadas, os pivetes apareciam. Até hoje não sei porque a gente não pediu ajuda a algum adulto. 

Eu só queria ir para minha casa e já estava escurecendo. Foi ai que decidimos ir para o ponto seguinte onde encontraríamos a galera de minha prima, que pelo horário, já estava saindo da escola também. No ponto de ônibus encontramos com a galera de minha prima e do outro lado da rua os pivetes que já tentavam atravessar para vir atrás de mim. Minha amiga já cansada de tanto fugir, mandava eu entregar os brincos. Quando eles chegaram perto de mim eu comecei a gritar e a falar alto. 

Eu- Olhe menino! Se você não sair daqui agora eu vou começar a GRITARRRRRRRRR, GRITARRRRRRRRR GRITARRRRRRRRR GRITARRRRRRRRR GRITARRRRRRRRR GRITARRRRRRRRR, GRITARRRRRRR, ATÉEEEEEEE NÃO QUERER MAIS, ATÉ VOCÊ SAIR DAQUI, ATÉ O MUNDO ACABAR , ATÉ A POLÍCIA APARECER E TE PRENDER, PORQUE EU NÃO VOU TE DAR NADAAAAAAAAAAAAAAAA...

Isso eu já estava gritando, já tinha chamado atenção de um monte de gente na rua, que estava se aproximando para ver o que estava acontecendo. Só sei que depois de minha gritaria os pivetes foram embora, e eu voltei para casa em paz e com meus brincos. 

Eu sou péssima para guardar nomes, mas lembro da fisionomia das pessoas. Anos depois, já devia estar no final do Ensino Médio, eu vi um dos pivetes, mendigando em frente ao Center Lapa. Fiquei meio chocada com a cena porque na época que ele tentou levar meus brincos, ele não era morador de rua, ele tinha a casa dele, morava com os pais, mas sabe esses meninos que passam o dia na rua aprontando e os pais não sabem o que andam fazendo... ele era assim.

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