Digo não ao “Sexo e as Negas”

Desde que comecei a escutar que a Globo iria lançar uma versão do Sex and The City e que negras seriam protagonistas, fiquei meio desconfiada. Minha real esperança de ver a Rede Globo mostrar o negro de forma diferente se esgotou lá em Suburbia. Quando finalmente descobri o nome do programa, comprovei que minha desconfiança tinha fundamento. 

Durante esse período li muita coisa, me revoltei com muita coisa e posso dizer que essa discussão é a prova de que estamos de olho e já chega dessa palhaçada. Depois que eu fiz um comentário em uma rede social e uma adolescente disse “isso é muita falta do que reivindicar e na boa feminismo a essa altura do campeonato não dá né” ou depois de receber o texto de um homem que dizia “ preconceito virou modinha! A menina escreve num papel “Globo eu não sou tuas negas” e a galera acha massa... Isso é carência, falta de sexo, de conquistas profissionais, de vida, de amor, de educação desprovida do próprio preconceito...” ou após ver gente questionando onde estava o humor, que era preciso levar as coisas com humor, eu pensei seriamente se iria escrever algo. Feminismo? Modinha? Falta de conquistas profissionais? Humor? 

Um momento, por favor! Em que mundo esse povo vive?

Sim! Eu vou escrever!

Na boa meu caro! Quer saber o que eu passo? Vista minha cor e sinta minha dor. 

Sexo é sexo, nega é nega e “Sexo e as negas” é um programa que já nos desrespeita pela péssima escolha do nome. Vi muita gente falando que o programa não tinha nem começado, que era preciso esperar para depois criticar. Não! Eu não quero esperar, já espero ser retratada de forma digna há muito tempo e esse dia nunca chega. O que esperar de um programa assim: 

Chamada 1: Uma mulher negra sendo agarrada por um homem negro na saída de uma festa na favela.
Chamada 2: Uma mulher negra agarrando um homem negro dentro de casa enquanto enrola o pai.
Chamada 3: Quatro amigas negras indo comprar um carro, em um ferro velho,e uma delas dizendo que o vendedor é um gostoso.

Esperar mais o que? 

Passei minha vida toda não me vendo na televisão e ainda não vai ser dessa vez que irei ver! Nós negros vivemos uma luta diária contra estereótipos, mas insistem em nos retratar como “as quentes”,“ as mulatas tipo exportação”, “Aquelas da sexualidade aflorada”, “ a empregada fofoqueira e burra”, “ a favelada barraqueira”. Agem como se não existisse mais nada para falar sobre nós. E ainda dizem que temos que encarar as coisas com humor!

Insistem em nós retratar apenas como camareiras, copeiras, empregadas domésticas. Nada contra as profissões, conheço mulheres incríveis, batalhadoras, que lutaram e hoje podem ver suas filhas, netas, sobrinhas exercendo profissões como advogadas, nutricionistas, jornalistas, enfermeiras, assistentes sociais dentre outras infinitas profissões que nós exercemos. Porém, só querem associam o negro a sexualidade, a pobreza e as drogas. 

Qual a dificuldade em criar um programa que mostre nossa luta, nosso desenvolvimento social, cultural e intelectual. A televisão no Brasil age como se nossa população não fosse majoritariamente negra, da mesma forma que querem nos fazer acreditar que só somos isso que eles retratam, como se a gente não pudesse ascender e modificar nossa história de vida. 

O problema é o sexo? São as negas? É a favela? O problema é tudo! É sempre nos retratar da mesma forma, é a exploração da nossa sexualidade, do nosso corpo, é a deturpação da nossa realidade, enfim, é erro do começo ao fim. 

Ah! E só mais uma coisa! Sou de Salvador e não venha para cá, querer justificar, dizendo que aqui todo mundo se chama assim. Sim! Eu chamo minhas amigas de “nega”, “preta” e não precisa ser inteligente para saber que tudo depende de como se fala, com quem se fala e onde se fala, então, não me venha você, fulano, me chamar de nega, pois tenha certeza de que irá se arrepender do momento que abriu a boca.

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