Diário de Buzú: Nunca tenha filhos

Tem dias que a pessoa está cansada, a única coisa quer é conseguir pegar um ônibus com cadeiras vagas e poder voltar para casa sentado e eu estava em um desses dias. Cheguei a Estação da Lapa, tinha um buzú no ponto que já estava cheio, então, resolvi ficar esperando o próximo. Várias pessoas que estavam na minha frente fizeram a mesma coisa, mesmo assim eu achei que daria para ir sentada no ônibus seguinte.

Outro ônibus chegou, eu entrei, paguei o transporte e quando me dei conta não tinha mais lugar para eu sentar, a menina que estava na minha frente sentou no último que tinha. Quando olhei mais para frente tinha um lugar prioridade. Não gosto muito de sentar lá por que nem dá tempo de esquentar o lugar e já chega alguém.Desta vez não foi diferente.

Apareceu uma idosa que dizia estar muito apressada,  ia pegar o ônibus para descer na ladeira do Cabula e depois pegar outro. Dei o lugar a ela e foi ai que começou a conversa. Eu tenho é sorte. Ela me perguntou se eu tinha filhos e se era casada. Disse não para os dois questionamentos.

Para a minha surpresa ela respondeu: "Nunca tenha filhos, não é bom não. Bom mesmo é sair por ai curtindo e curtindo". Achei estranho uma senhora estar me dizendo àquelas coisas, perguntei se tinha filhos e a partir daí ela começou a me contar sua história.

Disse que teve três filhas e que o marido queria um menino. Tentou a primeira, a segunda, a terceira e só vinha menina, então desistiu, mas o marido queria continuar tentando. “Meu marido queria continuar, mas que nada! Daqui a pouco vinha a quarta, quinta e nada do menino”, disse.

Como mulher tem é arte desde mil novecentos e antigamente tratou de não participar das tentativas do marido. Esperou ele viajar e fez a cirurgia de ligação de trompas. “Naquela época tinha que ter uma autorização do pai ou do marido e eu tava fazendo escondida porque ele não ia me deixar fazer”, contou. Pediu ajuda a um conhecido que assinou toda documentação como se fosse o marido dela.

Quando o esposo voltou de viagem ela não ia contar nada, mas teve uma hemorragia, ficou com medo e resolveu falar. O companheiro não ficou chateado e só questionou o que aconteceria se ele arranjasse outra e ela prontamente respondeu que ele poderia arranjar. “Que nada minha filha, ele não arranjou não, era quieto. Pelo menos até hoje eu não sei de nada”.

E o bate papo foi interrompido por um homem indignado que dizia ter levado 2h30 para chegar a Estação da Lapa.


Hoje o marido dela é falecido e eu fiquei pensando: Ela teve as três filhas e agora sai por ai dando conselhos para a pessoa nunca ter filhos. É mole?

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