O cabelo de Lari – Parte II
Vamos continuar a história do meu cabelo. Na postagem anterior, eu terminei falando que fiquei no processo de permanente até os 15 ou 16 anos, quando resolvi usar tranças sintéticas, então, vamos dar seguimento a partir desse ponto.
Minha prima mais nova começou a usar tranças, essas tranças feitas com fibra sintética, e sugeriram que eu usasse também, então, vi como as tranças ficaram nela, gostei, e comecei a usar. A primeira vez que coloquei, fui para a casa de minha avó e fiquei o dia todo lá colocando as tranças.Mais de 12 horas sentada em uma cadeira. Gostei do resultado, sendo assim, o esforço de ficar o dia todo sentada, valia a pena.
Na segunda vez, quem colocou as tranças foi uma menina aqui do bairro, super estilosa, que usava umas tranças vermelhas e chamava atenção por onde passava. A partir daí, usei tranças de várias cores, com mechas avermelhadas, loiras, fibras mais claras, mais escuras. Na época, a ponta das tranças eram queimadas e bastava usar uma blusa de renda ou de malha para a roupa desfiar na parte onde as pontas do cabelo ficavam.
Continuava no mesmo processo de um dia todo sentada, além disso, eu não conhecia meu cabelo, já que, tirava as tranças na sexta feira a noite e começava a colocar a nova no sábado de manhã. Toda vez que tirava as tranças, cortava a parte do meu cabelo que ainda estava com química, e assim, meu cabelo natural ia aparecendo. Achava meu cabelo sem jeito, sem forma, que não existia a possibilidade de deixa-lo natural.
Eu só marcava com a menina para trançar o cabelo, quando já tinha comprado a fibra e só começava a tirar as tranças, quando ela me confirmava que iria no dia seguinte. A partir daí era um mutirão para tirar as tranças. Eu, minha mãe e meu pai destrançando, em seguida lavava o meu cabelo, hidratava e esperava o dia seguinte chegar para encarar o dia todo sentada trançando o cabelo. Eu só gostava de tranças finas, grandes e que o cabelo ficasse bem cheio. Quando terminava, vinha à dor das tranças apertadas, o desconforto para dormir, o peso, mas tudo valia a pena.
Tempos depois, passei a trançar o cabelo com outra pessoa, que por sinal, era quem trançava meu cabelo até eu decidir parar de usar tranças. Continuava naquele processo de 12 horas trançando o cabelo, quando ela apareceu com uma amiga e já não ficava mais o dia todo no processo, elas também deixaram de queimar as pontas e passaram a amarrar com elastec.
Já estava acostumada com todo processo de tirar na sexta à noite e começar a colocar no sábado pela manhã. Já não sentia incômodo para dormir nos primeiros dias, não sentia mais peso, para mim era tudo natural . Deixava de ir para os lugares, afinal, sem tranças, jamais!
Perdi as contas de quantas vezes respondi a pergunta: Você lava? E a resposta era sempre a mesma... da mesma forma que você lava o seu.
Sai do ensino médio, entrei na faculdade usando tranças. Tinha gente que só conhecia Lari de tranças, me perguntavam se eu nunca iria tirar, se eu iria me casar de tranças, foi quando comecei a cogitar a hipótese de tirar. Porém, estava fazendo estágio em uma faculdade e em uma reunião fui surpreendida pelo comentário preconceituoso de um coordenador.
Já tinha um tempo estagiando no local, quando fui convidada para fazer umas fotos para uma peça publicitária da faculdade, depois desistiram, pois eu estudava em outra instituição e queriam alguma estudante da própria instituição, sendo assim, chamaram uma menina com características muito parecidas com as minhas... negra, cabelos trançados e fizeram um outdoor. Ocorreu uma reunião com alguns funcionários da faculdade e o palestrante era um coordenador. Ele falava sobre atendimento ao público quando chegou ao ponto do outdoor e questionou o por que de terem escolhido aquela menina, com aquele cabelo feio, mal cuidado para fazer a peça publicitária. Não era eu na foto, mas como era a única funcionária presente que usava tranças, todos os olhares se voltaram para mim. Eu fiquei em choque. Acho que foi a primeira vez que não rebati um comentário preconceituoso. Na verdade, eu não esperava aquele posicionamento no local onde eu estava e muito menos da pessoa que veio. Sei que esse foi o comentário geral da faculdade. A direção me chamou para pedir desculpas em nome do coordenador, outros coordenadores me chamaram para se desculpar, algumas pessoas que souberam da história me perguntaram se tirar as tranças não era a melhor opção já que muita gente não aceitava aquele tipo de cabelo dentre outras coisas. Eu, que estava cogitando a hipótese de tirar as tranças antes da reunião ocorrer, decidi que não ia mais tirar. Ele ia ter que me ver todos os dias, com minhas tranças desfilando por todos os setores da faculdade, inclusive, na sala dele.
Continuei usando tranças por mais ou menos uns oito meses, até que resolvi tirar e voltar ao permanente afro. Já queria tirar antes da reunião, mas não queria dar margem para o coordenador ou outras pessoas acharem que havia tirado por causa do comentário preconceituoso. Eu queria um visual diferente, afinal, foram seis anos usando trança direto, tirando em um dia e colocando no outro. Só quem me via sem as tranças eram meus pais e as meninas que trançavam.
Paro por aqui e na próxima semana venho com a terceira parte do Cabelo de Lari
O cabelo de Lari
Paro por aqui e na próxima semana venho com a terceira parte do Cabelo de Lari
O cabelo de Lari